Eu já assisti a um montão de filmes em minha vida. Na minha adolescência tardia, lá pelos 20 e tantos anos, havia dias em que eu via 4 a 5 filmes seguidamente, só dando uma pausa ou outra para uns goles de cerveja.
Destes filmes todos, só os que me vem à lembrança são o Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot) e o Hannah e Suas Irmãs (Hannah and Her Sisters). Mas, só dois? Talvez, fazendo algum esforço maior, eu venha a me lembrar de mais algum… agora, enquanto escrevo estas palavras, são só estes que me vem à memória.
As razões para isto são as mais estranhas… Ou nem tanto.
Naquela época, em que eu “queria provar para todo mundo que eu não precisava provar nada prá ninguém“, vivia em uma constante depressão. Mais ou menos, como o personagem do Woody Allen quando ele percebe que a vida não tem sentido. E no instante em que ele quase tira a sua própria vida, ele caminha até à exaustão e vai parar num cinema. Lá, assistindo a um filme – acho que era Uma Noite na Ãpera – com os irmãos Marx, percebe que mesmo a vida não tendo sentido, é só a que temos. Uma quase redenção.
A maioria das pessoas assistem ao filme Quanto Mais Quente Melhor por causa da Marilyn Monroe. E não poderia ser diferente, pois sob a direção do Billy Wyder ela se supera. Mas eu gosto deste filme principalmente porque ele é quase uma revelação para mim: a de que ninguém é perfeito.
Pode parecer óbvio para quase todos que não há perfeição no mundo, mas a constante busca para atingi-la é uma coisa que parece ocupar muita gente. E era isto o que me afligia. E não conseguindo, a culpa que eu sentia era tremenda. Um fardo que chegou a ser insustentável por muitas vezes e a salvação era sempre uma caminhada resultando na ida para o cinema.
Technorati : cinema, culpa, perfeição